Foi assinado na última quinta-feira (27/05), um acordo entre a Prefeitura de BH e a UFMG, que prevê um repasse de R$ 30 milhões para o desenvolvimento da vacina contra a covid-19.
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O termo de patrocínio foi formalizado pelo prefeito de BH, Alexandre Kalil (PSD), pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida, pelo presidente da Fundep, Jaime Arturo Ramírez, e pelos secretários municipais de Saúde, Jackson Machado, e da Fazenda, João Antônio Fleury Teixeira.
A primeira parcela do contrato, estimada em R$ 6 milhões, será liberada ainda em maio. As outras serão transferidas até dezembro, conforme proposta apresentada pela UFMG e aceita pela Prefeitura.
A Spintec é uma das três vacinas em estágio mais avançado no Brasil, e o suporte financeiro da Prefeitura da capital mineira vai assegurar o desenvolvimento das etapas 1 e 2 dos testes clínicos.
A condução dos estudos está a cargo do CTVacinas, representado na cerimônia de assinatura do acordo pelos professores Ana Paula Fernandes e Ricardo Gazzinelli. O vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira também participou da solenidade.
Os recursos da Prefeitura serão usados no pagamento de despesas de custeio relacionadas à manutenção e a experimentos com os animais, na compra de reagentes (para avaliação da resposta imune, produção e formulação das vacinas), na produção de lotes de teste para análise da Anvisa, na supervisão dos ensaios, no preparo da documentação de pedido de registro, na execução dos testes pré-clínicos e nas duas etapas dos ensaios clínicos.
Apoio em hora decisiva
A reitora Sandra Goulart destacou a “sensibilidade” da Prefeitura em fornecer suporte em um momento crítico da pesquisa. “Precisávamos de apoio para os testes clínicos.
Procuramos a PBH, e o prefeito Kalil nos atendeu em um momento de muita agonia. Esse apoio chegou em hora decisiva, não só por causa dessa etapa da pesquisa, mas também em razão dos cortes orçamentários”, disse a reitora, referindo-se aos bloqueios e aos vetos impostos aos orçamentos das universidades federais.
A reitora lembrou que a Prefeitura tem sido parceira da UFMG em várias frentes, e “ser parceira da UFMG é ser parceira da ciência, do conhecimento, do enfrentamento da pandemia e do desenvolvimento do país”.
Em sua fala, Sandra disse ainda que a vacina vem sendo desenvolvida desde março do ano passado, com apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). “Temos sete candidatas vacinais, e a Spintec foi a que apresentou os melhores resultados”, informou.
Sandra Goulart justificou a necessidade de se investir em vacinas nacionais.
“Sabemos que esse vírus veio pra ficar, e precisaremos vacinar nossas populações nos próximos anos”, enfatizou, adiantando que a UFMG, por meio do CTVacinas, pretende se transformar num centro nacional de imunizantes.
Ao reiterar o agradecimento à Prefeitura, Sandra Goulart disse que a UFMG é um patrimônio da cidade, de Minas Gerais e do país que precisa ser preservado.
“Temos confiança em nossos parlamentares, em nossos dirigentes, que estão trabalhando em favor da recomposição de nosso orçamento. Precisamos continuar atendendo às demandas da sociedade. A UFMG não é apenas necessária, ela é imprescindível neste momento”, salientou.
O prefeito Alexandre Kalil elogiou a UFMG – “a melhor e mais bem gerida universidade federal do Brasil” – e lamentou o fato de a instituição ter sofrido um corte considerável em seu orçamento de 2021.
O prefeito avaliou que os R$ 30 milhões ora aprovados “são apenas uma pequena parte do que será necessário investir nessa vacina tão promissora” e endossou as palavras da reitora Sandra Goulart ao destacar que a vacinação contra covid-19 terá de ser anual, assim como ocorre na imunização contra a gripe.
Sobre a crise orçamentária que afeta as universidades, Kalil defendeu uma união política entre o governo estadual, a Assembleia Legislativa, a bancada de deputados e senadores no Congresso Nacional e as prefeituras para garantir investimentos. “Precisamos manter de pé essa grande instituição [a UFMG] que enche os mineiros de orgulho”, defendeu.
Quimera
A plataforma tecnológica usada no desenvolvimento da Spintec consiste na combinação de diferentes proteínas para formar uma única, artificial.
Esse composto, chamado de “quimera”, é injetado no organismo em duas doses e induz à resposta imune. Por não usar exclusivamente a proteína S, na qual se dá a maioria das mutações, as chances de sucesso desse imunizante no combate às novas variantes são bastante elevadas.
Quando inoculado em camundongos juntamente com um adjuvante vacinal já testado em humanos, o composto foi capaz de induzir resposta adequada. Em camundongos geneticamente modificados para servirem como modelo para a covid-19, a formulação induziu 100% de proteção.
No momento, estão sendo realizados ensaios de tolerabilidade e imunogenicidade em primatas não humanos, destinados, respectivamente, a detectar possíveis efeitos colaterais e a confirmar a geração de anticorpos nas células de defesa.
Os recursos da Prefeitura de BH vão viabilizar os estudos de fase clínica 1 e 2 em adultos saudáveis sem exposição prévia à covid-19. Essas etapas são requisitos necessários para os ensaios de fase 3 e aprovação pela Anvisa.
O esforço vai incluir a produção da proteína quimérica, o preparo da documentação para registro do produto e os procedimentos para execução dos testes pré-clínicos de segurança e tolerabilidade e dos experimentos clínicos.
Após os testes com os primatas, os pesquisadores esperam ser autorizados a iniciar os experimentos clínicos em humanos, que serão divididos em três fases.
As fases 1 e 2 deverão ser realizadas ainda este ano, e a fase 3, no início de 2022. Caso os testes confirmem sua segurança e eficácia, o imunizante deverá chegar ao mercado ainda em 2022.
Por Felipe Cruz, com colaboração da UFMG.