Nascido em Pedro Leopoldo, no interior de Minas Gerais, Thiago Teodoro pesquisa o Povo de Luzia e a mitologia indígena para levar conhecimento histórico para a população
Em seu mais recente livro “A banda sagrada de Tebas” ele mostra importância dos primeiros habitantes das Américas para o protagonismo do Brasil na história mundial.
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Você já se perguntou o que existia no mundo há 11.500 anos?
Aqui na América, mais especificamente em Minas Gerais, havia o Povo de Luzia, cujos fósseis foram encontrados em Pedro Leopoldo e até hoje suscitam pesquisas sobre sua existência.
Nascido na cidade em que a primeira ocupação humana do continente foi descoberta, o escritor e pesquisador Thiago Teodoro decidiu se aprofundar na trajetória dos antepassados que viveram no Brasil muito antes dos indígenas.
Ele fez investigações in loco em sítios arqueológicos, analisou os trabalhos acadêmicos e tomou para si o trabalho de resgatar a história do país.
Diferente da ideia pré-concebida de que o passado brasileiro seria “arcaico” diante de grupos como os egípcios e gregos, ele defende a tese de que o Povo de Luzia era uma grande civilização, com comércio e política próprios.
Não apenas isso: outra linha de pesquisa do autor é a relação desses povos antigos com a homossexualidade.
Ao traçar paralelos entre deuses de várias mitologias, incluindo a brasileira com Anhangá e Acauã, Thiago Teodoro mostra o que as populações de milhares de anos atrás podem ensinar sobre diversidade.
Confira a entrevista com o autor :
1 – Você nasceu e mora em Pedro Leopoldo, cidade onde foram encontrados os fósseis desse povo.
Como você começou a se interessar por esse aspecto da história da sua cidade?
Thiago Teodoro: Sempre fui apaixonado por geopolítica, história… E fiquei indignado quando descobri sobre o Povo de Luzia e o grande desinteresse do meu país para com nossa origem.
No lugar de Pedro Leopoldo ser um ponto turístico internacional, somos polo cimenteiro.
O Brasil precisa se conhecer além de Portugal para se sentir grandioso!
E o Povo de Luzia tem muito a nos ensinar sobre o respeito para com a diversidade.
2 – Sua pesquisa começou pelo Povo de Luzia, primeiros habitantes das Américas cujos fósseis foram encontrados em Pedro Leopoldo.
Quem foi esse povo? Por que resgatar a história dele?
T.T.: Crescemos admirando a grandeza dos antigos egípcios, gregos, etc. Mas víamos o passado brasileiro como algo arcaico diante dessas culturas.
No entanto, através das descobertas que tenho feito sobre o Povo de Luzia, proponho não um grupo isolado e frágil, mas uma civilização espalhada por grande parte do que hoje é o Brasil, e que mantinha comércio e política com outros povos. E apresento as provas disso!
3 – O livro “A Banda Sagrada de Tebas” é resultado dessa pesquisa, em que você também trata de deuses brasileiros como Anhangá e Acauã.
Como os dois estão conectados com a história da homossexualidade?
T.T.: Há algo intrigante: todas as antigas culturas, por mais distantes que estivessem, contavam as mesmas histórias.
Só que com outros nomes e detalhes. Não foi diferente com o Povo de Luzia que habitou o Brasil antes dos indígenas e legou-lhes seus deuses, que podem ser encontrados em outros panteões.
A diversidade presente nas divindades legitimava essa diversidade presente nos homens.
4 – No livro, você também fala sobre Antínoo, amante do imperador Adriano que ganhou a própria religião.
O que a figura de Antínoo representa para os dias atuais?
T.T.: Diferente dos outros deuses gays, Antínoo existiu em carne e osso. E sua deificação após a morte não aconteceu por puro capricho de Adriano.
Desde o nascimento desse menino, viam em sua história o cumprimento do mito de Ganimedes (que chamamos de constelação ou signo de Aquário, a personificação da homossexualidade).
A Era astronômica de Aquário/Antínoo que estamos adentrando simboliza todos os gays!
5 – “A Banda Sagrada de Tebas” resgata histórias mitológicas de deuses LGBTQIA+. O que o levou a escrever sobre esse tema?
T.T.: Escrever sobre isso era tudo o que eu não queria quando comecei meu trabalho de pesquisa sobre o que havia antes dos indígenas.
Mas esses deuses LGBTQIA+ estavam lá, no meio do caminho. De repente, me vi diante de um espelho.
E assim começou meu processo de aceitação, de desfazer-me da homofobia aprendida.
6 – Na sua opinião, qual a importância de falar para a população LGBTQIA+ sobre esses deuses?
T.T.: No Brasil, mesmo quando um LGBTQIA+ aceita sua natureza, tende a manter pensamentos homofóbicos e a ter crises existenciais, pois vivemos no país mais cristão do mundo.
E a homofobia é uma criação das religiões abraâmicas. Apenas através do conhecimento histórico, científico e mitológico podemos realmente nos despir do ódio e sermos plenos.
Meu livro mescla essas três coisas propositalmente.
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Sobre o autor:
Escritor, jornalista e cantor, Thiago Teodoro mora em Pedro Leopoldo, no interior de Minas Gerais. Na cidade em que nasceu, foram encontrados registros do Povo de Luzia, ocupação humana mais antiga das Américas.
Com o compromisso de resgatar essa história, iniciou pesquisas há duas décadas e, como resultado desse processo de investigação, publicou o primeiro livro “A Banda Sagrada de Tebas”, focado no estudo da homossexualidade.
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Por Bráulio Ivo via assessoria