APA CARSTE DE LAGOA SANTA
“Nunca meus olhos viram nada de mais belo e magnífico nos domínios da natureza e da arte”. Essa frase dita por Peter Lund se referia ao hipnótico cenário formado pelas estalactites e estalagmites nas cavernas da região de Lagoa Santa/MG.
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Lund é considerado o pai da paleontologia brasileira – ramo da ciência que estuda formas de vidas existentes em tempos geológicos passados.
Dentre suas descobertas figuram exemplares da preguiça gigante, do tigre dente-de-sabre e do Homem de Lagoa Santa, que revelou a existência da presença humana no local há mais de 10 mil anos.
Lund sabia da riqueza natural e antropológica local, explorou mais de 800 cavernas.
O que ele não sabia é que, dois séculos depois, tudo estaria ameaçado pelo “desenvolvimento da região”.
No ano internacional de proteção das cavernas e do carste, os olhos deveriam se voltar para uma das regiões brasileiras mais importantes dessa área: o Carste de Lagoa Santa.
Sei que muitos leitores, assim como eu, já visitaram lugares encantadores como a Gruta da Lapinha e o parque do Sumidouro.
Esses locais são exemplos de paisagens cársticas marcadas por características peculiares, formadas principalmente pela ação da água em rochas porosas, que gera uma diversidade de ambientes como cavernas, grandes paredões verticais, sumidouros e até mesmo aquíferos (reservas de água subterrânea).
Da importância da região surgiu a Apa Carste de Lagoa Santa composta pelos municípios de Lagoa Santa, Pedro Leopoldo, Confins e Matozinhos.
A criação de uma área de proteção ambiental se justifica por se tratar da região do país que se registra o maior número de cavernas por área. Para além da importância arqueológica, a área apresenta uma importância para a preservação da biodiversidade.
Ambientes subterrâneos são de extremo endemismo e frequentemente abrigam espécies que ocorrem apenas em uma caverna e em nenhum outro lugar no mundo.
São importantes na ciclagem de nutrientes, na regulação e purificação da água e nos processos de formação e retenção do solo. Além, é claro, da importância socioeconômica voltado ao turismo, a recuperação da história e manutenção de reservas de água para abastecimento humano.
Dito isso, não é possível imaginar a possibilidade de que cavernas e outras formações da região sejam destruídas.
Apesar disso, esse patrimônio cultural e ambiental vem sofrendo interferências indiretas e diretas das atividades humanas.
Os danos vão desde pichações e acúmulos de lixo, até atividades minerárias e de alterações do uso do solo pela agricultura e urbanização.
As ameaças se agravam pela flexibilização do licenciamento ambiental que torna o processo de exploração mesmo em áreas ambientalmente protegidas ainda mais predatório.
Por isso, caros leitores e moradores do Vetor Norte, atenção aos processos desenvolvimentistas e mudanças das leis. Não podemos deixar que locais tão únicos sejam perdidos.
Por Lorenna Cruz