De repente me dei conta de que não recordo quando foi que montamos a última árvore de Natal, nem sendo possível descrever a caracterização da mesma, com os adornos e cores.
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Ah, mas sei que era grande! Visto que a cada ano, havia exigência que ela fosse maior. Coloco-me a questionar, por que não montamos mais árvores?
Será porque a família se transformou em adulta? Ou deixamos morrer de vez a criança que temos dentro de nós?
Ou será o tempo que não temos mais para dedicar a montá-la, pensar nos detalhes, definir a estrela a ser colocada bem no alto, selecionar os apetrechos, com as bolas grandes e pequenas?
Será que a casa não cabe mais a árvore? Os cantos da sala foram ocupados pela tecnologia? Não tem mais um cantinho para receber a árvore de Natal?
Pode ser que ela não foi mais montada porque não íamos ter tempo para apreciá-la.
Já não havia mais encantamentos pelos piscas picas, pois as luzes já não piscavam todas, foram queimando com os anos, embolando seus fios. As bolas descascando, opacas, muitas trincadas.
Também pode ser o adeus ao cheiro de mofo trazido na grande caixa para dentro da casa, que era colocada em cima do sofá cansado e surrado pelo uso, mas sempre com alegria e entusiasmo íamos selecionando tudo!
As bolas grandes, as menores, os sininhos, Papai Noel de tecido, as correntes prateadas e as douradas com seus minis apetrechos, as minis caixas de presentes, as velas e tantas outras coisas.
Havia expectativa antecipada. No mês de novembro ocorria a faxina geral, para a preparação da árvore de natal.
Com toque infantil, montávamos juntos, mas com tempo foi feita pelo meu primogênito, sozinho.
Detalhista, não se perdia meio ao sonho, tudo tinha um sentido e uma história. Meu filho caçula chegou e passou a fazer parte desse ofício, a princípio como plateia e admirador das histórias, até que lhe foi permitido anexar bolinhas no local que determinávamos.
Doravante, o espetáculo natalino passou a ter o olhar dos dois irmãos. Pronto! A árvore agora tinha que ser cada vez maior, os apetrechos de tamanho definido, as cores com prata ou dourado, o olhar já era de adolescente.
Até que… A árvore saiu de vez. Foi doada.
Ficou um pequeno presépio montado na mesinha de centro da sala. Mas isso já faz tempo, nem a mesinha de centro existe mais!
Agora temos a história registrada com orgulho e afeto na memória.
Eu recordo que na minha adolescência e juventude, buscava sempre montar uma árvore de natal. Isso já soma décadas no tempo.
Sempre saía nos lotes vagos para procurar galhos secos de árvores, assim, os cobria de algodão. Mas antes, o algodão também era tirado no pé, passado com paciência pelo processo da limpeza e retirada das sementes.
Aí, sem cerimônia, fincava o galho dentro de uma lata, dessas que vêm com tinta para paredes, colocava brita, areia e ainda escorava o galho com umas duas pedras maiores para que o galho não ficasse torto.
Na época, todos em casa achávamos lindo. Eu e minhas irmãs pendurávamos balas chitas amarelas, vermelhas e verdes para dar cor à singela árvore de galho seco revestida de algodão.
Essa ficava no canto da pequena e humilde sala, ao lado do velho sofá coberto pela surrada e desbotada colcha de chenile. Não recordo de termos montado essas árvores sem antes da tradicional faxina em toda casa, tudo era areado a espera do brilho maior, a chegada do menino Jesus! O natal.
Na singela árvore quase não havia presentes, na maioria das vezes, nenhum a seus pés. Mas o que não faltava era a admiração e orgulho em apresentar às visitas essa obra de arte.
As balas iam sendo tiradas para saboreio, claro, as dos cantinhos, disfarçados, assim ficava o plástico dependurado nas longas e nada discretas linhas de costura colorida, usadas para amarrar as balas nos galhos.
Os mais espertos costumavam colocar uma pedrinha na embalagem no lugar da bala. Com o passar dos dias as balas começavam a melar, atraindo as formigas doceiras. Dava trabalho! Mas tínhamos árvore de natal.
Eu era uma adolescente, mas consegui viver tudo isso enquanto mãe com meus filhos. O tempo tem pressa em passar por nossas vidas, não podemos ficar às margens dele. Não podemos engavetar os pequenos detalhes da vida com as experiências vividas.
Será essa memória um detalhe de observação materna, cujos filhos cresceram, profissionalizam, adquiriram independência e o ninho infantil fica vazio!
Mas o que importa é que sempre montamos a árvore, no mais puro e singelo simbolismo, deixando para todos um significado para toda vida!
E você, tem uma história familiar com a Árvore de Natal?
Essa crônica foi escrita por Cleusenir Rosa de Oliveira.
Ilustração: Yasmim Rosa Ramos, de 10 anos.
Apoio: Depósito Oliveira (bairro Aeronautas).