O Vetor Norte Notícias bateu um papo com Thiago Teodoro, cantor e escritor, natural de Pedro Leopoldo. Ele vai lançar nesta quarta-feira (16), sua nova música autoral, sobre Antinoo.
O jovem era amante do Imperador Romano Adriano, e foi declarado Deus após sua trágica morte.
Confira a entrevista exclusiva.
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VNN- Você escolheu 16 de novembro, Dia Internacional da Tolerância, para lançamento da sua nova música, Antinoo. Por quê?
TT- Poucos sabem que o Brasil tem ocupado, nos últimos anos, o primeiro lugar na lista dos países que mais matam pessoas LGBT+, em todo o mundo, de acordo com instituições como o GGB.
E menos ainda são os que se importam com um dado tão sangrento e que aponta para uma desinformação generalizada em nossa nação em relação à natureza humana.
Quando compus a música ‘Antínoo’, quis propor o amor no lugar do ódio motivado por algumas crenças religiosas e tradições patriarcais, pois o amor é inclusivo, enquanto a estigmatização ainda tira a vida de tantos Antínoos brasileiros.
Assim, escolher o Dia Internacional da Tolerância – uma data estabelecida pela ONU – foi completamente proposital.
Creio que a arte pode nos sensibilizar para revermos nossos conceitos e preconceitos.
VNN – Conta para a gente como surgiu a ideia de homenagear o Deus Gay Antinoo com uma música e como foi o processo de criação da canção?
TT- Eu diria que essa não é uma homenagem, mas um resgate histórico.
Antínoo existiu em carne e osso, nasceu na atual Turquia, foi o verdadeiro amor do imperador romano Adriano e, após sua misteriosa morte, tornou-se o último grande deus pagão.
O que o difere dos outros deuses LGBT+ espalhados pelo mundo (como os gregos Zeus e Apolo, e o chinês Tu Er Shen), é que ele foi divinizado exatamente por causa da sua homossexualidade.
Toda sua vida (identificada pelos gregos e outros povos como encarnação de Ganimedes, o parceiro de Zeus) tornou-se uma bandeira contra o que hoje chamamos de homofobia.
Ao lançar uma música inspirada em Antínoo, estou reacendendo uma das grandes chamas que ajudaram a iluminar nosso mundo desigual.
O processo de criação dessa música foi tomado por esse sentimento e consciência.
VNN- Estamos ansiosos também pelo videoclipe. Onde ele foi gravado e o que podemos esperar desta produção?
TT- Foi tudo feito na Região Metropolitana de Belo Horizonte, porque esse é um lugar extremamente especial para a história humana (embora nem todos deem valor a essa riqueza).
Foi aqui que descobrimos o povo mais antigo das Américas: o Povo de Luiza.
Em meus anos de trabalhos investigativos (sim, eu investigo muito, porque um bardo só canta aquilo que pesquisou e precisa transmitir), descobri muita coisa interessante sobre como esses nossos ancestrais podem ter lidado com a diversidade.
Por isso, esse é o cenário principal do livro que estou escrevendo sobre a história oculta da homossexualidade, onde a música ‘Antínoo’ aparecerá em uma das cenas.
O clipe de ‘Antínoo’ foi gravado em Pedro Leopoldo e na Praça da Liberdade de Belo Horizonte, e é um recorte da mensagem desse livro que vem aí.
VNN- Você tem um trabalho riquíssimo de pesquisa de personagens LGBTQIAP+ na Mitologia e na História. De onde vem o interesse por estes temas?
TT- Minha formação é Jornalismo. E eu queria usar minhas habilidades para ajudar pessoas LGBT+ e seus familiares.
Existiam infinitas maneiras de fazer isso, mas eu precisava estar onde pudesse florescer de forma leve, sem que isso se tornasse um fardo para mim.
Então pensei: “eu amo história antiga, povos antigos. Por que não resgatar esses conhecimentos para mostrar que a homossexualidade sempre existiu e que a homofobia é apenas uma recente construção social e religiosa?
Essas informações seriam tão libertadoras para os outros quanto foi para mim.
Quando estou tirando a poeira de livros e documentos abandonados, entrevistando especialistas, indo aos locais, não estou apenas trabalhando, ajudando as pessoas através do conhecimento e transformando esse saber em arte escrita e cantada; estou, também, vivendo, sendo-me plenamente.
Descobrir, desenterrar e compartilhar são coisas que me alimentam e expandem.
Não há como fugir disso, pois sou um bardo (mesmo que aos moldes do século XXI).
VNN – Você também é escritor e vai lançar em breve seu primeiro livro “A Banda Sagrada de Tebas”. Fale um pouco sobre a obra. Já tem data para lançamento?
TT- Acabei de assinar com a agência literária CASA, com quem estou fazendo todo o processo de negociação com as editoras, a fim de escolhermos aquela que tratará ‘A Banda Sagrada de Tebas’ com mais carinho.
Trata-se de um romance histórico, fruto de muitos anos de pesquisas e investigações sobre a história da homossexualidade, o Povo de Luzia, deuses e mitos internacionais que se conectam com a herança dos nossos povos indígenas, etc.
E tudo isso embalado por muita música. Sim, o livro tem uma trilha sonora composta e gravada por mim (da qual a música ‘Antínoo’ faz parte).
O título ‘A Banda Sagrada de Tebas’ não é apenas referência ao batalhão de soldados gays que existiu na Grécia Antiga.
Há, realmente, uma banda musical nessa trama. Aliás, a Lista de Espera do livro já está aberta (o link está nas minhas redes sociais e site). E a inscrição é gratuita!
VNN – Você já foi cantor Gospel e frequentou igrejas evangélicas por muitos anos. Estes ambientes são, invariavelmente, intolerantes em relação a homossexualidade e a liberdade de crenças. Como você transitava neste meio? As pessoas sabiam da sua sexualidade e do seu apreço pelo paganismo?
Fui líder e vocalista de uma banda religiosa conhecida na região de BH, além de ter participado de projetos no Diante do Trono e no departamento de música da Igreja Batista da Lagoinha.
Mas não sofri o preconceito da religião, pois, infelizmente, eu concordava com o que me era ensinado em relação à homossexualidade.
Só me aceitei e amei por volta dos 23 anos. As mudanças que me ocorreram posteriormente não foram por causa da minha natureza – desde que eu não falasse as coisas em público, me toleravam.
O que me transformou mesmo foram os anos de pesquisas e investigações. Meu próprio processo de aceitação aconteceu por causa desse saber histórico e científico.
A música ‘Antínoo’ e o livro ‘A Banda Sagrada de Tebas’ são frutos desses saberes que tiram o peso da culpa e do medo.
VNN – Como e quando você se percebeu gay e como foi o processo de aceitação e vivência da homossexualidade?
A gente nasce sendo de cor tal ou tal, destro ou canhoto, com temperamento assim e assado, assim como homossexual ou não.
Não há escolha em relação à nossa natureza. No meu caso, eu sempre soube que achava meus coleguinhas bonitos, e que a beleza das minhas coleguinhas não chamava a minha atenção.
E eu me esforçava muito para fingir o contrário, pois as crianças percebem rapidamente as expectativas dos pais e as hostilidades do seu entorno.
Mas logo que entrei na puberdade essa admiração pela beleza tornou-se outra coisa. Ou seja, foi exatamente igual como acontece com todo ser humano.
VNN- Vivemos em uma sociedade estruturalmente machista e temos a homofobia como subproduto desta dinâmica. Os LGBTs, em maior ou menor grau, sempre passam por episódios de preconceito, violência, discriminação ou intimidação. Você já viveu e/ou presenciou algum episódio homofóbico?
Sim, desde criança ouço afrontas e deboches, coisa que não teria acontecido se os pais educassem seus filhos não para serem homofóbicos, mas pessoas respeitosas e cultas o suficiente para conviverem com a pluralidade.
Os piores ataques verbais vieram depois que passei a viver sem máscaras – e foram quase todos dirigidos por pessoas próximas.
Felizmente, nunca fui agredido fisicamente, mas nem todos têm essa sorte. Todo LGBT+ é um Antínoo dos dias de hoje.
A canção fala exatamente isso: “dizem que o nome dele era Antínoo, mas podia ser o meu também.”
VNN – Você é de Pedro Leopoldo. Percebe alguma movimentação da sociedade e da administração pública para garantir que a cidade seja mais inclusiva no que tange aos direitos da comunidade LGBTQIAP+?
Eu fiquei profundamente tocado quando soube que a atual administração de Pedro Leopoldo acabou de criar e empossar seu primeiro comitê LGBT+.
Além disso, está acontecendo a Parada do Orgulho e outras atividades de conscientização.
No recente Workshop de Paleontologia da cidade, procurei a prefeita Eloísa para parabeniza-la pessoalmente.
Não sei se ela imagina o tamanho da nossa gratidão e admiração.
VNN- Além do Antinoo, quais são seus personagens LGBTs preferidos. Cite um histórico e um mitológico.
Alexandre o Grande é considerado um dos maiores homens da Antiguidade. Sua vida amorosa é uma das que mais me comovem.
Ele amou o general Heféstion ao ponto de minguar até a morte, após a partida do amado.
Em relação aos personagens mitológicos, Pátroclo é meu favorito. Eu compreendo porque Aquiles se apaixonou tanto pelo príncipe. Pátroclo era uma alma apaixonante.
VNN- Você é bastante presente e participativo nas redes sociais, tem muitos admiradores por lá. Qual sua rede preferida e como é o relacionamento com os fãs?
Cada rede é um ambiente diferente, com oportunidades diferentes. Gosto de todas elas.
O Twitter é meu local favorito. É onde mais podemos ser apenas nós mesmos, sem toda a produção e planejamento que as outras redes (como o Instagram) exigem em troca de entrega.
Mas tenho prestado muita atenção no TikTok. Ele é o momento. E tem me proporcionado alcances incríveis.
VNN – Vi que já está rolando um Pre Save de Antinoo nas principais plataformas de streaming. Explica para a galera como funciona este pré-lançamento da música e do Clipe. Qual horário do lançamento no dia 16?
Quem usa Spotify, Deezer, Amazon ou Apple pode fazer o pre-save gratuito de ‘Antínoo’. Basta clicar no link: AQUI
Assim, minha música irá aparecer na sua telinha, na madrugada do dia 16 de novembro, exatamente à meia-noite.
Fazer o pre-save é a melhor forma do público mostrar pras plataformas que essa música é relevante e merece ser impulsionada para mais pessoas.
Faça o pre-save!
Por Bráulio Ivo